[frederico canuto]
Em tempos de copa, nada como comentar de futebol numa coluna mensal sobre arquitetura... Entretanto, o que arquitetura, normalmente identificada com a projetação e construção de espaços para as atividades humanas, tem a ver com futebol?
Quando Rivelino, jogador da seleção brasileira tricampeã de 1970, comenta em um jornal de circulação nacional que o futebol brasileiro está morrendo porque o futebol de rua está morrendo, de alguma forma está dizendo que a rua é responsável direta pela perpetuação de um tipo de futebol, o futebol-arte especificamente brasileiro, dos dribles de Garrincha, das pedaladas de Robinho, da técnica de Pelé, do gingado de Ronaldinho Gaúcho, da visão de jogo do Dr. Sócrates entre outros. Sem juízos de valor sobre quem é o melhor dos jogadores citados anteriormente (não é esse o caso!), o fato é que, segundo a colocação de Rivelino, a rua é o espaço possibilitador para futuros jogadores iniciarem e/ou, quem sabe, aperfeiçoarem suas técnicas futebolísticas. Mas que espaço é esse?
O espaço da rua não é um espaço vazio de significado para a cidade, mas um repleto de atividades humanas, como a circulação de carros, ônibus, motocicletas, bicicletas e pedestres, por exemplo. Assim, a rua só é espaço de circulação se alguém circula por ela, assim como somente se torna espaço da compra e venda se camelôs instalam sua barraquinhas para vender produtos nela, por exemplo.
No caso do futebol de rua, a rua, potencialmente celeiro de “craques da camisa número 10” está morrendo, pois as crianças a que Rivelino se refere não jogam futebol mais nas ruas, mas em outros lugares como as Escolinhas de Futebol. [Há cerca de um mês atrás, ao jogar futebol numa quadra em Belo Horizonte, impressionou-me o fato de que crianças de seis anos de idade, colocadas em escolas de futebol pelos pais, já ouvem, entendem e obedecem a palavras como padrão de jogo, disciplina e equilíbrio tático. É precisamente nesta transformação do futebol como cultura para uma culturalização pelo futebol (e não é que os norte americanos estão aprendendo futebol?) a que Rivelino se refere. Ou esquete canarinho ficou pior ou as seleções de outros países ficaram melhores, ou assistimos a uma globalização do futebol, com todos jogando a partir de conceitos numéricos como 4-4-2, 3-5-2, 3-5-1-2, 4-3-3.]
A importância qualitativa de um espaço lhe é atribuída mesmo quando seu sentido comum é subvertido ou negado. No caso da rua, um outro uso que não o da circulação, seu principal, por exemplo. Mesmo que a rua não seja usada para o circular, isso não significa que ela não está sendo usada. Ao repensar o uso da rua para a permanência, como um espaço de ESTAR, é que a rotina da repetição é transformada em uma diferenciação. A rotina de anos atrás, do futebol de rua, potencialmente pode retornar como novidade. Não é uma questão de saudosismo mas de reinvenção de algo, para além do futebol jogado nos campos de várzea, cada vez mais próximos da extinção pela criação das Escolinhas de Futebol, quadras de aluguel, pelos edifícios e condomínios fechados com áreas de lazer e vazios na cidade cada vez mais murados. A arquitetura pode se apresentar como lugar do circular ou do permanecer, como em um jogo de futebol de rua, por exemplo.
Em tempos de copa do mundo, jogar futebol de grama na rua pode parecer surreal (como nesta foto do movimento “rua verde”, onde as pessoas ocuparam as ruas do centro de uma cidade com placas de grama sintética e mesas, cadeiras e sombrinhas), mas seria a celebração de um esporte e de uma vida brasileira comumente associada ao futebol. Grama sintética no asfalto da rua, uso dos prédios como parceiros em jogadas de tabela, os muros das casas como um quadro para se pintar o gol de tinta branca, varandas de casas e edifícios como arquibancadas, bares e lanchonetes próximos como espaços de concentração de espectadores, e aparelhos de som das casas como fornecedores de trilha sonora para os jogos são infra-estruturas capazes de produzir um novo ambiente arquitetônico para o futebol de rua, portanto, uma nova cultura de futebol de rua já que espaços vazios sem muros na cidade são cada vez mais escassos.
Quando Rivelino, jogador da seleção brasileira tricampeã de 1970, comenta em um jornal de circulação nacional que o futebol brasileiro está morrendo porque o futebol de rua está morrendo, de alguma forma está dizendo que a rua é responsável direta pela perpetuação de um tipo de futebol, o futebol-arte especificamente brasileiro, dos dribles de Garrincha, das pedaladas de Robinho, da técnica de Pelé, do gingado de Ronaldinho Gaúcho, da visão de jogo do Dr. Sócrates entre outros. Sem juízos de valor sobre quem é o melhor dos jogadores citados anteriormente (não é esse o caso!), o fato é que, segundo a colocação de Rivelino, a rua é o espaço possibilitador para futuros jogadores iniciarem e/ou, quem sabe, aperfeiçoarem suas técnicas futebolísticas. Mas que espaço é esse?
O espaço da rua não é um espaço vazio de significado para a cidade, mas um repleto de atividades humanas, como a circulação de carros, ônibus, motocicletas, bicicletas e pedestres, por exemplo. Assim, a rua só é espaço de circulação se alguém circula por ela, assim como somente se torna espaço da compra e venda se camelôs instalam sua barraquinhas para vender produtos nela, por exemplo.
No caso do futebol de rua, a rua, potencialmente celeiro de “craques da camisa número 10” está morrendo, pois as crianças a que Rivelino se refere não jogam futebol mais nas ruas, mas em outros lugares como as Escolinhas de Futebol. [Há cerca de um mês atrás, ao jogar futebol numa quadra em Belo Horizonte, impressionou-me o fato de que crianças de seis anos de idade, colocadas em escolas de futebol pelos pais, já ouvem, entendem e obedecem a palavras como padrão de jogo, disciplina e equilíbrio tático. É precisamente nesta transformação do futebol como cultura para uma culturalização pelo futebol (e não é que os norte americanos estão aprendendo futebol?) a que Rivelino se refere. Ou esquete canarinho ficou pior ou as seleções de outros países ficaram melhores, ou assistimos a uma globalização do futebol, com todos jogando a partir de conceitos numéricos como 4-4-2, 3-5-2, 3-5-1-2, 4-3-3.]
A importância qualitativa de um espaço lhe é atribuída mesmo quando seu sentido comum é subvertido ou negado. No caso da rua, um outro uso que não o da circulação, seu principal, por exemplo. Mesmo que a rua não seja usada para o circular, isso não significa que ela não está sendo usada. Ao repensar o uso da rua para a permanência, como um espaço de ESTAR, é que a rotina da repetição é transformada em uma diferenciação. A rotina de anos atrás, do futebol de rua, potencialmente pode retornar como novidade. Não é uma questão de saudosismo mas de reinvenção de algo, para além do futebol jogado nos campos de várzea, cada vez mais próximos da extinção pela criação das Escolinhas de Futebol, quadras de aluguel, pelos edifícios e condomínios fechados com áreas de lazer e vazios na cidade cada vez mais murados. A arquitetura pode se apresentar como lugar do circular ou do permanecer, como em um jogo de futebol de rua, por exemplo.
Em tempos de copa do mundo, jogar futebol de grama na rua pode parecer surreal (como nesta foto do movimento “rua verde”, onde as pessoas ocuparam as ruas do centro de uma cidade com placas de grama sintética e mesas, cadeiras e sombrinhas), mas seria a celebração de um esporte e de uma vida brasileira comumente associada ao futebol. Grama sintética no asfalto da rua, uso dos prédios como parceiros em jogadas de tabela, os muros das casas como um quadro para se pintar o gol de tinta branca, varandas de casas e edifícios como arquibancadas, bares e lanchonetes próximos como espaços de concentração de espectadores, e aparelhos de som das casas como fornecedores de trilha sonora para os jogos são infra-estruturas capazes de produzir um novo ambiente arquitetônico para o futebol de rua, portanto, uma nova cultura de futebol de rua já que espaços vazios sem muros na cidade são cada vez mais escassos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário